quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Vice do PSB recebe apoio da indústria bélica e constrange Marina

Beto Albuquerque encerra seu mandato como deputado federal nesta legislatura, após receber doações pesadas de setores repudiados pela candidata Marina Silva
Candidato a vice na chapa de Marina Silva à Presidência da República, Beto Albuquerque (PSB-RS) contraria a determinação da ex-senadora, que recusa dinheiro do agronegócio e da indústria de armamentos. Ele recebeu doação de R$ 30 mil da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (Aniam), que tem como filiadas a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) e a Taurus, na campanha eleitoral de 2010, quando se elegeu deputado federal, de acordo com prestação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Marina, assim que aceitou a missão de concorrer pela legenda, reiterou ao PSB sua posição:
– Estabelecemos que não iríamos receber nenhum tipo de doação da indústria do tabaco e da indústria bélica. Esses compromissos nós continuamos com eles. É uma mensagem de que defendemos uma cultura de paz. Queremos trabalhar com a ideia de promoção da saúde – afirmou.
Albuquerque, no entanto, se justifica, após perguntado em uma entrevista se a companheira de chapa sabe de onde vem o dinheiro que gasta:
– É claro que ela sabe. Ela não veio para o PSB para ser PSB, assim como não nos coligamos com o Rede para sermos Rede. Nós somos de partidos diferentes. Essa contribuição (doação) veio de conhecidos que trabalhavam na Taurus. E o valor, R$ 30 mil, é pequeno. Eu votei favoravelmente ao desarmamento, no Referendo de 2005 – alega.
Álcool e armas
O deputado federal gaúcho Beto Albuquerque, candidato a vice na chapa de Marina Silva, foi um dos grandes entusiastas da candidatura própria do PSB. Albuquerque apoiou o rompimento do PSB com a base aliada do PT, à época, alegando que não havia espaço no governo para a legenda participar de decisões importantes, como ocorria durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Defensor do agronegócio, que representa grande parte dos doadores de sua campanha, Albuquerque carrega a missão de servir de ponte entre Marina Silva e a bancada ruralista. Em recente conversa com jornalistas da revista de centro-esquerda Carta Capital, Albuquerque afirmou que “sair do governo, entregar os ministérios, é dar independência ao PSB, de forma soberana, para definir o momento exato de ter ou não um candidato”. Então líder do partido na Câmara, Albuquerque defendeu que o Brasil precisa de discussões sobre seu momento histórico e suas novas necessidades políticas.
– Não tem havido debate político no Brasil de alto nível sobre as coisas que acontecem no país – afirmou.
O tom de renovação já havia sido o mote de Albuquerque em 2009, quando ele tentou se apresentar como uma terceira via para o cargo de governador do Rio Grande do Sul. Albuquerque tentou organizar uma frente de partidos socialistas para formar uma coligação forte para a disputa ao governo, que reuniria o PSB, PP, PCdoB, PDT, PPS, PTB, PR, PV e também do PSC, PTC e PtdoB. A união ruiu com a desistência do PCdoB, que puxou outros partidos a romperem com a chapa, levando o próprio Beto Albuquerque a desistir de concorrer ao cargo nas eleições de 2010. Neste ano, Albuquerque disputaria o Senado, mas desistiu para formar a chapa ao Planalto. Neste posto, ele terá a difícil tarefa de mediar a comunicação entre Marina, historicamente ligada a causas ambientais, e a bancada ruralista. O deputado federal Odacir Zonta (PSB-RS), ligado ao setor rural no Estado, afirmou na última semana que o projeto de governo idealizado por Eduardo e Marina pode seguir em frente, desde que a ideia de agronegócio sustentável proposta por Eduardo continue em vigor.
Transgênicos
Eleito pela última vez em 2010, Albuquerque teve parte da campanha financiada por empresas empresas de bebidas alcoólicas (como Bracol Holding LTDA e Fratelli Vita Bebidas S.A), a Aniam e diversas companhias ligadas ao agronegócio, como a Tres Tentos Agroindustrial SA, a Fibria Celulose S/A, a Sementes Guerra S/A e Moinho Iguacu Agroindustrial LTDA., entre outras. Em 2004, Albuquerque esteve envolvido no desenvolvimento da Medida Provisória que autorizou o plantio de soja transgênica no Brasil. Na época, Marina Silva era ministra do Meio Ambiente e se opôs à decisão. Albuquerque, como um dos vice-líderes do governo no Congresso, ajudou na articulação para a aprovação do projeto. Marina chegou a pedir uma reunião com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar especificamente desse projeto, mas Lula manteve a decisão de sancionar a medida.