Do Vermelho
Teve início na noite desta quinta-feira (5) o maior congresso da história do PCdoB. O povo brasileiro – representado em sua diversidade na mesa do plenário por negros, índios e brancos – foi o escolhido como homenageado dos comunistas. O ponto alto da noite foi a intervenção do presidente Renato Rabelo. Quarenta e nove delegações de 32 países estavam presentes.
Congresso começou hoje em São Paulo com homenagem ao povo
Até o momento, 80% dos delegados de todo país se encontram no Congresso. Com o plenário do Anhembi cheio, foram aprovadas a mesa diretora dos trabalhos, a proposta de regimento interno e as comissões de Organização e Eleitoral.
A homenagem aos brasileiros – estampada no palco nas figuras de Tiradentes e José Bonifácio – foi feita ao final da sessão pelo deputado federal Aldo Rebelo. “O povo brasileiro fez-se povo e constituiu esta nação tão admirada sem renunciar a nenhum sacrifício na sua trajetória, enfrentando desde os seus primeiros habitantes a violência do projeto colonial”.
Segundo Aldo, “se fomos vítimas do processo cruel e injusto pelo qual caminha, caminhou e por um tempo ainda caminhará, o povo não se submeteu a esse processo, não aceitou a posição de vítima e se assumiu como protagonista”. E continuou: “se hoje podemos ter um líder operário e nordestino mesmo com o preconceito das elites é porque se sustentou sobre os ombros de nosso povo que construiu uma história política e nos movimentos sociais”.
Por fim, afirmou: “a maior homenagem que podemos render ao nosso povo é jurar que continuaremos lutando por sua unidade e contra sua divisão. O povo é o maior patrimônio de nosso país e essa é a nossa forma de amar o povo brasileiro: tornar nosso país cada vez mais um projeto civilizatório”.
Informe político
Ao iniciar seu informe político, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo constatou: “atravessamos um período histórico insólito – que vai chegando ao limite de um tempo e que pode irromper o limiar da transição para uma nova época civilizatória”. Segundo ele, “o desfecho que tomará essa transição para uma nova época, com o aprofundamento e aguçamento da crise do capitalismo, resultará do rumo e do desenlace que prevalecerá no curso da luta ideológica e política contemporânea, que na atualidade converge, explícita ou implicitamente, no embate por uma alternativa, por objetivos a serem perseguidos e caminhos a serem seguidos”.
Para que tal rumo seja alcançado, um novo Programa Socialista se faz necessário. A nova proposta “delineia a exigência profunda do tempo atual: um terceiro grande salto civilizatório afirmativo da Nação brasileira, que só é possível com a transição para o socialismo, inserindo dessa maneira a revolução brasileira na dinâmica concreta da história nacional”. Mas, colocou, “não estão presentes na atualidade no Brasil, as condições políticas para a conquista imediata do socialismo. É preciso percorrer então um caminho que nos leve a esse objetivo maior.”
O caminho, conforme enfatizou, “é a luta desde agora pelo delineamento e execução de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, destinado a começar a superação das principais contradições e impasses acumulados no decorrer da trajetória do país, sendo este o caminho brasileiro para o socialismo”.
Em ligação com a realidade atual do país, Rabelo passou a tratar da importância do governo Lula no contexto nacional e internacional para o alcance de um novo patamar de desenvolvimento no país. Por isso, foi contundente: “o ciclo político aberto a partir da eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser truncado nas eleições de 2010” e disse que Lula “goza hoje de incomparável prestígio popular, assumindo uma posição de destaque entre os maiores líderes nacionais na história política brasileira”.
De acordo com o comunista, “a história política do Brasil demonstra que quando se impõe uma liderança capaz de unir a maioria da nação, o país pode avançar em grandes empreendimentos, descortinando novos horizontes para o povo”.
Resistência da direita
Sobre o posicionamento dos setores conservadores, Renato Rabelo lembrou que apoiada pelo monopólio midiático, a oposição tem tentado, a todo custo, enfraquecer e derrubar o governo Lula. “O PCdoB não entrou no ‘cordão dos desiludidos’ que acabou sem alternativa política, e tacitamente reforçando o campo oposicionista de direita”, afirmou.
Mesmo sendo aliado histórico do PT e um dos partidos da base de apoio do governo, Rabelo salientou que “o PCdoB não confunde o seu programa com o programa da aliança política. Igualmente, o Partido recusa o ‘seguidismo’ e preserva sua independência em relação ao governo. Lealdade não significa abdicar dessa condição”.
No campo oposto, o presidente destacou a dificuldade de a direita se impor mesmo quando o assunto é a eleição de 2010. Como exemplo, colocou o papel do PSDB – principal legenda do campo conservador – que tem buscado a construção de uma candidatura forte, mas que ainda se encontra dividido entre adotar um ou outro governador tucano.
Além disso, Rabelo colocou que “a existência de mais de uma candidatura no campo lulista tenderá a ser efêmera sem o seu apoio. A candidatura de Marina Silva, pelo PV, terá mais influência em setores das camadas médias, podendo subtrair votos nos dois lados, sem alcançar a dimensão de uma terceira via.
Brasil com destaque no mundo
Ao tratar do contexto internacional, Renato Rabelo enfatizou que “a crise global do capitalismo de vastas proporções exprimiu com maior agudeza a tendência de declínio gradual e progressivo do imperialismo norte-americano, ao mesmo tempo em que acentua a emergência de China, Rússia, Brasil e Índia, o surgimento de blocos regionais não alinhados e contradições interimperialistas”. Cresce, neste sentido, a luta dos trabalhadores e dos povos por melhores condições de vida.
No quadro de um mundo em transição e para lidar de maneira adequada com os desafios atuais, Rabelo disse que “é interesse do povo brasileiro que se avance para uma América Latina unida e integrada. Para o Brasil, a integração continental é base para sua inserção no mundo. E em conseqüência da sua dimensão política e econômica – hoje com maior influência no concerto das nações e como parte constitutiva dos seus interesses nacionais – o Brasil vai ocupando um importante papel protagonista na união sul e latino-americana”.
No que tange aos interesses imperialistas no continente latinoamericano, Rabelo chamou atenção para as riquezas nacionais, especialmente após a descoberta do petróleo na camada do pré-sal. Criticou a presença da Quarta Frota na costa na região e o acordo militar entre Colômbia e EUA como sinais preocupantes dessa ação. “É preciso ter em conta – como elemento geopolítico fundamental na luta por um projeto nacional de desenvolvimento – que a América Latina é área chave do interesse dos países imperialistas. Há uma disputa entre eles que tende a se agudizar pelo controle de fontes de recursos nos países ‘periféricos’”. E completou dizendo “merecer total apoio a proposta de novo marco regulatório do pré-sal defendida pelo governo”.
Continuidade em 2010
Renato Rabelo voltou a tratar do quadro eleitoral de 2010 reafirmando que o PCdoB considera “uma exigência política para o êxito do campo democrático e progressista a aliança básica entre os dois partidos mais votados nas últimas eleições, PT e PMDB”. E completou: “quanto mais a eleição presidencial de 2010 se concentrar na forma de plebiscito, de polarização a favor ou contra o ideário e as realizações de Lula, maiores são as chances de vitória da candidatura sustentada pelo presidente”.
No que diz respeito ao projeto dos comunistas, a prioridade está na renovação do Congresso Nacional. “O partido procurará eleger uma bancada mais numerosa de deputados federais que permita elevar o nível de intervenção partidária nacional a um patamar superior. Também, é possível ampliar a bancada comunista no Senado Federal e até disputar a eleição para governador de Estado”, afirmou numa referência ao nome do deputado federal Flávio Dino, que poderá disputar a cadeira no Maranhão.
A fim de alavancar ao poder as forças progressistas e de esquerda para as próximas eleições, chamou atenção para a importância da convocação de uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) no próximo ano.
Terminando sua intervenção, falou sobre a vida partidária, destacando que “os importantes êxitos conseguidos não devem escamotear os nossos erros e insuficiências, sendo imprescindível constatar os ensinamentos numa atitude aberta e franca tendo no comando o êxito político e a edificação de um partido revolucionário profundamente vinculado ao povo e por ele respeitado”.
No ano em que muitos comemoram os 20 anos do fim da União Soviética, Renato Rabelo lembrou da comemoração dos 90 anos da Revolução Russa dizendo que “somos os seus continuadores para a nossa época. Somos integrantes da corrente marxista, revolucionária, mundial, aqui representada pelos queridos camaradas das delegações dos partidos comunistas e revolucionários do mundo inteiro. Mais uma vez reafirmamos: não percamos de vista o nosso grandioso ideal socialista. Estamos convencidos mais ainda de que o tempo nos dará razão”.