quinta-feira, 4 de junho de 2009

George Câmara: Diferentes, sim. Desiguais, não!


Dizem que se conhece o nível de maturidade de uma determinada sociedade pela forma como ela trata as suas diferenças. Maior grau de intolerância é um inequívoco indicador de sociedades atrasadas, onde a solidariedade e o respeito à dignidade passam longe. Por outro lado, as sociedades mais avançadas registram relações entre as pessoas e entre segmentos sociais muito mais solidárias e calcadas em valores elevados no tocante à dignidade humana, sobretudo no respeito às diferenças.

Nesse quesito, o Brasil é um país que ostenta índices ainda vergonhosos, apesar da sociedade brasileira avançar. A partir da própria experiência nas lutas sociais, em que vamos desbravando caminhos tortuosos na conquista da auto-afirmação, nos constituímos como sujeitos do processo histórico, e não como meros expectadores. Já que maio é um mês com tantas datas significativas nessa matéria, tratemos de algumas reflexões.

No tocante à etnia, as diferenças têm natureza objetiva, pois se expressam independentemente das nossas vontades. A mão supostamente invisível do mercado também determina o que é e o que não é aceitável como tipo biológico. Negros, índios e ciganos, por exemplo, travam uma batalha pela auto-afirmação, na sociedade de padrões biológicos e sociais. Enfrentam, a um só tempo, o preconceito e a falta de acesso às oportunidades. Esta última, em muitos casos, produto também desse mesmo preconceito. Luta negada e camuflada pela própria historiografia oficial, que esconde ou deturpa o assunto.

Quanto à orientação sexual, que é um direito inerente à dignidade humana, quanta intolerância! Pessoas são discriminadas, ridicularizadas e excluídas pelas suas opções, quando estas diferem de determinados padrões pré-estabelecidos. O direito de ser respeitado, de ser feliz, parece não sensibilizar a sociedade. Frequentemente subordinamos direitos elementares ao enquadramento a padrões de comportamento absolutamente preconceituosos.

Como tratamos as pessoas cujas diferenças as colocam em situação de vulnerabilidade? Portadores de necessidades especiais, também chamados de deficientes, na maioria dos casos, são absolutamente alijados do acesso aos mais elementares espaços de nosso cotidiano, quer seja do ponto de vista físico ou institucional.

Qual o tratamento que damos às nossas crianças? Que mundo solidário estamos construindo junto com elas e para elas? Sobretudo aquelas que se encontram na frágil condição do abandono e frente às mais variadas lesões à sua dignidade, em idade tão especial?

Por falar em idade, como a sociedade encara a situação dos idosos, cuja autoridade conferida pelos anos e desafios enfrentados parece não ter nenhum significado? É muita petulância tratar como fardo aqueles que têm como bagagem a condição e o privilégio de nos oferecer, com o saber de seus anos, uma nova lição em cada esquina.

Mas afinal, o que significa, numa sociedade de classes, se enquadrar ou se comportar conforme os padrões estabelecidos? Será que não somos tão mais iguais do que a vã aparência nos sugere? Muito antes de sermos diferentes, somos incrivelmente iguais. Quando raspamos a catarata de nossos preconceitos, nos deparamos com a nossa essência, com a condição de seres humanos, com inúmeras virtudes e defeitos. Mas, sobretudo, com enormes possibilidades: de aprender, de amar e de ser feliz. Viva as nossas diferenças! Como somos iguais!

George Câmara é petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB.