Os mais antigos costumavam dizer que o Pelé é o Pelé por dois motivos: porque foi um gênio, e porque soube parar na hora certa, no auge. Ninguém viu Pelé definhar, encolher em público, tropeçando nas pernas, na idade ou na bola.
Fico a pensar nisso quando leio as notícias sobre Carlos Alberto Parreira e José Sarney. Os dois estão longe de ser gênios, eu sei. Mas podiam ter entrado para a história de forma mais digna.
Pelo Sarney, nunca tive simpatia. Fez um governo medíocre, manipulou a opinião pública durante o Plano Cruzado, ajudou o Centrão na Constituinte, em troca de um ano a mais de mandato. E quando ganhou o ano a mais, não sabia que fazer com ele. O Brasil naufragava no caos, na inflação, na anomia. E deu no que deu: deu em Collor.
Ainda assim, Sarney podia ter entrado para a história como o homem da transição, o presidente que teve sangue frio para concluir a longuíssima transição brasileira. Mas, aí, ele não seria o Sarney, dirão vocês. Têm razão.
Azar do Sarney. Em vez de ser lembrado como ex-presidente da transição, será lembrado como presidente do Senadão das passagens, das falcatruas, da desmoralização...