terça-feira, 27 de março de 2012

Negros fazem greve de fome por mais acesso à Educação

ONG pede cota para negros em bolsas do Ciência sem Fronteiras e em concursos públicos federais, fazendo manifestação nesta segunda-feira (26) em frente ao Palácio do Planalto. Brasil tem menos negros nos campi universitários do que a África do Sul, na época do apartheid, declara manifestante.


A organização não governamental (ONG) Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) defendeu nesta segunda-feira (26), no primeiro dia de Marco Maia como presidente interino, a adoção de cotas em favor de afrodescendentes e de populações carentes no programa Ciência sem Fronteiras - que concede bolsas de estudo de mestrado, doutorado e pós-doutorado em universidades no exterior.

O grupo conduziu um ato, no qual os manifestantes iniciaram uma greve de fome em frente ao Palácio do Planalto. Eles reivindicaram mais políticas públicas para os negros. Normalmente, os grupos que fazem manifestações em frente ao Planalto são recebidos pela Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela interlocução com os movimentos sociais. Desta vez, o próprio Marco Maia os recebeu.

Os integrantes da Educafro deixaram a reunião no Palácio do Planalto determinados a encerrar a greve de fome. “O encontro superou nossas expectativas. O presidente em exercício se colocou aberto para atender nossas propostas e encaminhá-las aos ministérios”.

Ciência sem fronteiras

Desde janeiro deste ano, 1,5 mil estudantes foram contemplados com bolsas de estudo em universidades dos Estados Unidos e do Canadá pelo programa Ciência sem Fronteiras. Até o final do ano, a expectativa é que esse número chegue a 20 mil. O intuito do programa é conceder 100 mil bolsas até 2015.

O Educafro considera que a maior parte da população brasileira (mais de 51% que se declara afrodescendente) fica em situação de desigualdade em iniciativas como essas no país. O programa é desenvolvido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a participação do Ministério da Educação.

Educafro

A entidade cobra medidas especiais do governo para eliminar "desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a compensação de perdas provocadas pela discriminação e marginalização decorrentes de razões raciais, étnicas, religiosas e de gênero". A ONG pretende colher 100 mil assinaturas para fortalecer a luta pela inclusão de negros no programa.

Para o diretor de Engenharia do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Guilherme Sales, há intenção dos setores envolvidos com o programa de bolsas "de trabalhar juntos" com as representações dessa população a fim de minimizar as diferenças que dificultam sua participação no programa. Ele disse que já estão alocados os recursos para custeio de 75% das bolsas, sendo que os 25% restantes virão da iniciativa privada. 

Ascensão difícil

Para o diretor do Educafro, frei David Santos "o governo e o Congresso estão desenhando um Brasil novo para reduzir as disparidades sociais, mas existe ainda uma reação dura de parte dos membros do Executivo que dificulta a ascensão dos negros, contra a própria prioridade que a presidente da República já declarou para o programa". 

Ele constata que o Brasil tem menos negros nos campi universitários do que a África do Sul, na época do apartheid. Da forma como está, segundo ele, "os países que vão receber os estudantes brasileiros vão ter uma imagem irreal do Brasil. Não queremos políticas novas com hábitos velhos, pois há o predomínio dos eurodescendentes, num processo de meritocracia injusta que alija os mais pobres", declarou. 

O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, disse que pelo menos 2 mil jovens negros entre os que estudam na instituição têm interesse em participar do programa Ciência sem Fronteiras.

Com informações da Agência Brasil