Por Wellington Duarte
Ver
e ouvir os “destemidos” e “honestos” tucanos defenderem a “aparelhada”
Petrobrás, pode dar ênfase à visão de que a proposta dos senhores da elite
paulista é, de fato, revigorar a empresa e lhe dar “gestão responsável”, resgatando-a
da “quadrilha de petralhas”, conforme disse a ex-integrante dessa “quadrilha”,
a senhora Marina Silva, que alardeou isso aos quatro ventos nas suas
propagandas eleitorais e que tem sido repetido à exaustão pelos robôs tucanos
nas redes sociais. À primeira
vista parece que o amor dos tucanos pela Petrobrás é insofismável, tal qual o
clássico amor de Romeu e Julieta, ou seja, amor incondicional por esse
patrimônio criado no governo de Getúlio Vargas, em 1953.
Mas,
como no Brasil, a memória tende a ser “construída” a partir do ponto de vista
das elites, o “modo tucano” de lidar com os trabalhadores tem sido pouco
revelado nessa guerra eleitoral, tem sido simplesmente APAGADO da memória daqueles
que ainda a tem. Mas a história é terrível. Deixa rastros, documentos,
impressões digitais e revela que nem sempre a máscara pode esconder o que está
por trás dela.
O
tal amor do PSDB pela Petrobrás foi expresso muito bem durante os oito
anos do
governo de Fernando Henrique Cardoso, o mesmo sociólogo que vive amuado
pelo
fato de que os “desinformados nordestinos” terem possibilitado a ida de
Dilma ao
segundo turno. Aécio Neves, o douto guardião da moral e incorruptível
por
natureza, afora o aeroporto que construiu nas terras do seu parente e de
ter
defendido o vestal Demóstenes Torres (DEM), flagrado em atos
anti-republicanos,parece ser outro apaixonado pela Petrobrás, e faz
parte dessa ordem de querubins vindos do
Céu para lutar contra o Grande Satã Lula
e o seu exército de “petralhas”. Mas a maldição da história quebra a mais ardente das paixões.
Corria
o ano de 1995, primeiro ano do governo FHC, cujo mandato se iniciava com o
respaldo da mídia, dos partidos conservadores e até de progressistas e de meio
mundo, por ter “debelado” o “dragão da inflação”, numa tacada monetarista que
ficou conhecido como Plano Real, perfeito em quebrar o ciclo inflacionário e
mais ainda em preparar o país para o mais colossal programa de desmonte social
já feito. Mas tudo eram flores, e os faunos corriam pelos campos verdejantes do
Brasil afora, encantando os brasileiros e afins.
Naquele
ano, em três de maio, a Federação única dos Petroleiros (FUPE), uma das mais
aguerridas entidades sindicais do país, deflagra uma greve, depois que o
recém-empossado FHC, quebra um acordo assinado entre a Petrobrás e os
petroleiros, em 22 de novembro de 1994, no apagar das luzes do governo de
Itamar Franco. O “modo tucano” de governar iniciou-se com a quebra, pura e
simples, de um acordo.
Greve
deflagrada, começa aí a história de um governo que, seguindo a regra dos
liberais, teve como objetivo quebrar a espinha dorsal do sindicalismo
brasileiro e assim evitar oposição ao Plano Real. FHC ordenou ao exército a
ocupação de refinarias, prendeu centenas de petroleiros e demitiu outras centenas
de dirigentes sindicais, além de conseguir, como não podia deixar de ser, o
apoio do Judiciário que meteu multas milionárias nos sindicatos. FHC recebeu
ajuda até de assessores de Margareth Tatcher, que tinha destruído o movimento
sindical britânico, quando da greve dos mineiros.
|
À mando de FHC o exército ocupou as refinarias da Petrobrás em 1995 |
Mas,
como recordar faz bem às almas, penadas ou não, vale citar as outras “bondades” feitas
por FHC durante o “tucanato”, na “adorada” Petrobrás. Vejamos tais bondades
tucanas.
1 –
Como ministro da Fazenda, ainda em 1994, MANIPULOU a estrutura de preços dos
derivados de petróleo, de forma que nos seis meses que antecederam a entrada em
vigor do Plano Real, os combustíveis tiveram aumento médio de 8% abaixo da
inflação ao mês, e como o cartel internacional das distribuidoras tiveram, no
mesmo período, aumentos de 32%, houve uma PERDA de pouco mais de US$ 3 bilhões
(em dinheiro de hoje mais ou menos R$ 7 bilhões) sob a forma de perdas no
faturamento, da qual os cartéis se aproveitaram. Quanto amor.
2 –
Ao iniciar seu mandato, FHC baixou um decreto que criava o Serviço de
Informação e Apoio Legislativo (SIAL), um “departamento araponga”, que buscava
identificar funcionários públicos que fosse à Brasília, falar com
parlamentares. Como os deputados e senadores estavam sempre chamando
funcionários da Petrobrás para que estes lhes dessem apoio, os mesmo passaram a
ser vigiados “com todo carinho”.
3 –
Ainda em 1995 o governo assinou um contrato do Gasoduto Bolívia-Brasil, que
acabou sendo o pior contrato já assinado até então, e que faz Pasadena ser
piada. Um projeto economicamente inviável, que a Petrobrás assumiu tendo perdas
financeiras, pois a Petrobrás era obrigada a pagar determinada por quantidade
de gás, utilizando ou não, além de desviar recursos da Bacia de Campos, para
investir nesse Gasoduto. Tudo com muito amor e carinho.
4 – No
mesmo ano de 1995 o nobre FHC mandou para o Congresso um conjunto de mudanças
constitucionais, incluindo nelas, a quebra do monopólio do petróleo. Para
conseguir seus objetivos utilizou-se de pressões, compra de votos e tudo que os
vestais tucanos juram não fazer. A partir daí as empresas internacionais
passaram a ter acesso à exploração, produção, transporte, refino e importação
de petróleo.
5 - O
saco de “bondades” de FHC para com a Petrobrás era tanto, mas tanto, que
resolveu , em 1997, promulgar a Lei 9.478/97 que abriu o capital da empresa
para investidores estrangeiros. Isso reduziu a participação acionária do
Estado. Na prática, mais pessoas - inclusive estrangeiras - passaram a dividir
os lucros da empresa sem que para isso fizessem investimento direto na
Petrobras. O amor dos tucanos pela Petrobrás daria um ótimo filme.
6 - Em
1998 o governo federal impediu a Petrobras de obter empréstimos no exterior de
emitir debêntures para a obtenção de recursos para novos investimentos. Ao
mesmo tempo, FHC criou o Repetro (regime aduaneiro especial), isenção fiscal às
empresas estrangeiras que importam equipamentos de pesquisa e lavra de
petróleo, sem a devida contrapartida para as empresas nacionais. Com isso,
cinco mil empresas brasileiras fornecedoras de equipamentos para a Petrobras
quebraram, provocando desemprego e perda de tecnologia nacional.
E
para culminar esse amor (estranho amor), em dezembro de 2000, o governo FHC anunciava
que iria mudar o nome da empresa para PETROBRAX, para “unificar a marca e
facilitar o seu processo de internacionalização”. O custo da mudança da
logomarca? Mais de R$ 50 milhões.
|
Apresentação da PetroBrax, em dezembro de 2000 : era preciso apagar a Petrobrás da memória do brasileiro |
A
mudança de nome não deu certo e, no governo Lula, os petroleiros
demitidos foram readmitidos, mas parece que a retomada dos investimentos
e o novo crescimento da Petrobrás fez com que o velho amor dos tucanos
pela empresa revivesse.
Acreditar
no amor tucano pela Petrobrás é o mesmo que acreditar queo Íbis
participará do Campeonato Brasileiro do ano que vem, a convite da sempre
honesta e ilibada Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Acredite se quiser.