Não é apenas a governadorável Rosalba Ciarlini quem foge do presidenciável José Serra como o diabo foge da cruz.
da revista ISTOÉ
TRAIÇÃO TUCANA
Por medo da popularidade de Lula, candidatos do PSDB e do DEM excluem Serra de suas campanhas e decidem unir-se a nomes apoiados pelo presidente
AUSENTES
Políticos do PSDB e do DEM evitam ligar suas imagens à de Serra
A ascensão de Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto não é a única fonte de dor de cabeça para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Passado mais de um mês do início da campanha oficial, Serra encontra dificuldades para mobilizar os próprios tucanos nas regiões Norte, Nordeste e até Sudeste do País. Em alguns Estados, a traição é explícita, a ponto de os candidatos do partido nem sequer utilizarem a imagem de Serra nos materiais de campanha. Para piorar, a arrecadação, até agora, ficou aquém das expectativas, o que mostra que o empresariado também anda ressabiado com o desempenho do candidato do PSDB. O montante – R$ 3,6 milhões – equivale a um terço do total arrecadado por Dilma.
Um dos casos mais emblemáticos de deserção ocorre no Amazonas. Em dificuldade para se reeleger, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, um dos mais ferrenhos opositores do governo no Congresso, se aliou, informalmente, ao candidato a governador Alfredo Nascimento (PR). Ex-ministro dos Transportes do governo Lula, Nascimento apoia Dilma ao Planalto. De acordo com aliados de Virgílio no Estado, o senador tucano, candidato à reeleição, só conseguiu alcançar a segunda colocação nas pesquisas depois da conveniente aliança com Nascimento. “É difícil ir contra Lula e Dilma aqui”, admite um dos integrantes do diretório do PSDB no Amazonas. No Estado, a aprovação do governo Lula é a maior do País: chega a 91%.
Outra região em que o presidente é muito bem avaliado, o Nordeste foi o principal destino de José Serra nas últimas semanas, mas a estratégia não tem surtido efeito. Em comparação à pesquisa anterior do Ibope, a diferença pró-Dilma cresceu de 18 para 24 pontos percentuais no eleitorado nordestino. A estratosférica popularidade de Lula na região faz com que aliados do tucano o escondam de santinhos e cartazes de campanha. Candidato ao governo do Ceará, Marcos Cals (PSDB-CE), até a última semana, não tinha colocado a imagem de Serra no seu material de divulgação. Ele preferiu aparecer ao lado do candidato à reeleição ao Senado Tasso Jereissati, seu padrinho político. Em Pernambuco, 15 dos 17 prefeitos do partido apoiam a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), candidato de Lula e Dilma no Estado. Apenas Elias Gomes, de Jaboatão dos Guararapes, e Padre Marcos, do município de Ibimirim, ainda não declararam publicamente apoio à reeleição do socialista. Enquanto isso, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato de Serra no Estado, vê sua candidatura minguar. Um dos expoentes do apoio tucano a Campos é o ex-prefeito de Gravatá, Joaquim Neto. “Não dá para colocar na conta do PSDB as dificuldades que a campanha da oposição enfrenta em Pernambuco e em todo o Nordeste”, admite o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. O tucano disse ainda que o seu partido é “democrático, não tem dono nem coronel” e, por isso, não fará nada aos prefeitos considerados infiéis.
No Rio Grande do Norte, a traição da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), que lidera a disputa ao governo do Estado, também não será castigada. Rosalba, aliada de José Agripino Maia, líder do DEM no Senado, foi aconselhada por marqueteiros a omitir Serra da campanha. Não por acaso. Segundo as últimas pesquisas presidenciais no Estado, Dilma tem 52% das intenções de voto dos potiguares. O candidato do PSDB, José Serra, aparece com 31%. Diante desse quadro desfavorável, Serra promete intensificar a ida ao Rio Grande do Norte. “O nosso Estado promete ser o trampolim da nossa campanha na região Nordeste”, diz o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN).
O staff de Serra está mais preocupado, porém, com o crescimento do fenômeno Dilmasia – movimento que apoia Dilma para presidente e o tucano Antonio Anastasia para governador – em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País. No Estado, Dilma contabiliza 44% das intenções de voto, contra 32% de Serra. A ascensão da petista em Minas é responsável pelo crescimento das intenções de voto da candidata na região Sudeste. Para os próximos dias, está previsto um evento do movimento Dilmasia reunindo até 500 prefeitos mineiros. Um dos líderes é o prefeito de Salinas, José Prates, do PTB, partido que está coligado ao PSDB no plano nacional. Também faz parte do grupo o prefeito de Itamonte, conhecido como Marquinhos, do PSDB. “Já contamos com 350 prefeitos confirmados, mas calculo que pelo menos 500 apoiam essa dobradinha. Nós defendemos a continuidade dos programas federais e estaduais nas nossas cidades”, afirma José Prates. Nova versão do Lulécio – o voto em Lula para presidente e em Aécio para governador, que marcou as eleições de 2006 no Estado –, o apoio a Anastasia e Dilma tem ganhado força, nos últimos dias, nas regiões pobres do norte mineiro e vales do Jequitinhonha e do Mucuri, que reúnem um total de 157 municípios e cerca de três milhões de habitantes. Para azar de Serra.