Petroleiros do Rio Grande do Norte bloquearam nesta terça-feira a BR-110 por mais de quatro horas, para exigir da Petrobras a garantia de retomada de investimentos nos campos terrestres de exploração do Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Sergipe, Bahia e Espírito Santo. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte, só na região de Mossoró, a 270 quilômetros de Natal, as demissões do setor já somam mais de 5 mil em pouco mais de dois anos. Segundo os manifestantes, a Petrobras começou a desacelerar os trabalhos nos seis estados por causa do pré-sal.
O protesto foi no quilômetro 35 da rodovia federal, e mobilizou 2 mil pessoas durante as quatro horas, de acordo com os manifestantes. Mas a Polícia Federal calculou entre 300 e 500 o número de ativistas na estrada. Eles provocaram em engarrafamento de mais de cinco quilômetros, nos dois sentidos da pista. O objetivo era impedir que a presidente da Petrobras, Graças Foster, participasse de um evento, ao qual compareceram cerca de 2 mil lavradores, no município de Areia Branca, onde foram inauguradas obras de convivência com o semi- árido implantadas pela Articulação do Semiárido (ASA), mas patrocinadas pela Petrobras. A empresa está investindo R$199 milhões na construção de 20 mil unidades do gênero em 210 municípios do semiárido.
Na noite de segunda-feira, Graças avisou à ASA que não viria, enviando o diretor de produção e exploração da Petrobras, José Miranda Formigli, para representá- la. O protesto atrasou em mais de uma hora o início do evento, que ocorreu na área rural de Areia Branca, a 45 quilômetros do centro de Mossoró.
Mais de dez entidades — entre sindicalistas, petroleiros, organizações não governamentais e parte da bancada da Câmara Municipal de Mossoró — participaram do protesto. O presidente do Sindicato no Rio Grande do Norte, José Antônio de Araújo, antecipou que os petroleiros estão organizando um encontro para o dia 5 de agosto, em Natal, para formalizar a criação do movimento de defesa dos campos terrestres da Petrobras, que segundo ele estão semi abandonados, inclusive no Rio Grande do Norte, onde fica o maior campo de produção terrestre do país. Denunciou, ainda, que a Petrobrás vem suspendendo contratos com empresas terceirizadas, nas quais há trabalhadores que estão sem receber direitos trabalhistas desde abril.
— Há até salários atrasados desde abril — disse Araújo.
O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, José Miranda Formigli, negou que a empresa esteja desacelerando investimentos nos campos terrestres de produção no Ceará e Rio Grande do Norte, e assegurou que a companhia não precisa utilizar recursos desses locais para aplicar no Pré Sal.
— Já fizemos reuniões com a bancada federal e também com a governadora (Rosalba Carlini, do Dem), mostrando que nossos investimentos são crescentes na região, nas áreas de produção e exploração. De forma nenhuma o Pré Sal suga recursos destinados à atividade daqui para a nossa atividade lá. A Petrobrás tem capacidade de gerar receita para ter financiabilidade capaz de dar conta dos projetos daqui. Obviamente que sejam econômicos, e isso tem sido demonstrado em várias outras oportunidades — disse Formigli.
Vereadores reclamam de prejuízos à economia local
Vereadores de Mossoró que participaram do protesto disseram que já estiveram com Foster, na sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro, que lhes prometeu que os serviços não serão desacelerados. Mas na prática, eles dizem que o que ocorre é o contrário:
— Ela nos disse que vão retomar os empregos, mas só na cidade de Mossoró, já são mais de 1.490 perdidos. Sabemos que para manter o mesmo ritmo aqui, seriam necessários R$1,4 bilhão anuais, mas o Plano de Investimentos da empresa só contempla R$400 milhões para 2017, o que mostra queda gradual e progressiva — disse o vereador Genival do Vale (PR).
Ele afirmou, ainda, que 189 técnicos e profissionais de nível superior foram recentemente transferidos de Mossoró para a região de exploração do Pré Sal. E acusou a Petrobras de impor "cláusulas draconianas" nos contratos com as prestadoras de serviços. O sindicato reclamou até de assédio moral, diante da constante ameaça de desemprego. Segundo o vereador Luiz Carlos Mendonça Martins (PT), a desaceleração já afeta a economia da região. Em Mossoró, o índice de ocupação hoteleira já caiu de 78% para 46%.