Por Gutemberg Dias
Fazer uma discussão sobre o problema do Sistema de Transporte Público em Mossoró se faz necessário, antes de mais nada, entender a dinâmica socioeconômica do município e os programas de desenvolvimento da malha urbana.
Mossoró economicamente tem sua maior expansão econômica e demográfica a partir da década de 1970 e, principalmente, logo após o início operacional das atividades de exploração petrolífera na década de 1980, quando há um crescimento natural nos fluxos migratórios e aquecimento econômico.
Nesse período os deslocamentos ainda estavam restritos ao perímetro central, onde o fluxo de pessoas acontecia com certa facilidade devido as pequenas distâncias a serem vencidas, ou seja, nesse período a mobilidade urbana poderia ser considerada satisfatória.
Porém, com o crescimento da mancha urbana patrocinado, em parte, pelo desenvolvimento econômico e pelos programas de habitação dos governos, bairros passaram a ser criados perifericamente ao núcleo central urbano e, com isso, as distâncias passaram a ser maiores, já sinalizando a necessidade de se pensar estratégias que garantisse ou facilitasse o deslocamento coletivo para esses novos territórios.
Com a expansão do tecido urbano as distancias aumentaram de forma gradativa e a necessidade de deslocamento passou a ser um problema para a massa de povo que aos poucos eram deslocadas para os bairros periféricos. Essa expansão não foi acompanhada da infraestrutura necessária no tocante ao transporte público e, naturalmente, a própria malha viária urbana foi sendo criada sem o planejamento necessário a devida implantação de políticas de transporte público coletivo.
É notório que os problemas advém de longa data e a atual administração apenas faz o favor de manter ele vivo, já que ações efetivas não são tomadas para sanar as deficiências e garantir um perfeito funcionamento do sistema que deveria responder majoritariamente pelo maior fluxo de deslocamento da população.
É sabido que apenas investir no sistema de transporte público não é a solução e, diante disso, a gestão municipal precisa fazer uma leitura ampla do problema, não se restringindo apenas a querer colocar ônibus nas ruas. Claro que essa é uma solução urgente, porém paliativa.
Em 2009, se não estiver errado, a cidade era atendida por 13 linhas que cobriam cerca de 64% da demanda do município. Saliento que esses dados são da própria prefeitura em documento que trata da mobilidade urbana no governo da ex-prefeita Fafá Rosado. Mas, acredito que na atualidade esses números são menores, principalmente, no que tange à cobertura.
Um dado do Ipea (2012) que merece ser trazido a essa discussão, mostra que em cidades acima de 60 mil habitantes no Brasil, cerca de 38% dos percursos são feitos a pé. O mais interessante disso é que esse alto índice de percursos a pé não está relacionado apenas ao problema da falta do transporte, ou seja, uma grande parte é em função do preço da tarifa.
Nesse sentido a gestão municipal em Mossoró precisa de imediato garantir uma frota suficiente na rua, mas, também, precisa se ater aos demais problemas associados ao sistema que degradam a qualidade, como a questão da tarifa, a regulação melhor de seu espaço urbano (rever a expansão horizontal), o reordenamento dos percursos, reestrutura dos corredores (vias) de acesso e, também, a regulação de veículos em áreas centrais.
Quanto a esse último ponto, a questão dos veículos, nada será resolvido se a gestão municipal não criar mecanismos eficazes para inibir o uso de veículos próprios, principalmente, no centro da cidade. Dessa forma, a criação da Zona Azul é uma ferramenta imprescindível na reestruturação do Sistema de Transporte Público, salientando que toda sua arrecadação deve ser utilizada única e exclusivamente para financiar a melhoria do sistema como um todo.
Num contexto geral, se nada for feito e se não houver um entendimento sistêmico do problema, com o crescimento populacional e, principalmente, devido a expansão da mancha urbana, Mossoró estará fadada a ser uma cidade com gigantescos (hoje são grandes) problemas no tocante a mobilidade urbana no futuro próximo.
As soluções existem e a cada ano que se passa mais caro fica para o cidadão.
Gutemberg Dias é empresário, geógrafo e mestre em Recursos Naturais