sábado, 18 de outubro de 2014

TUCANOS E PETROBRÁS : UMA (TERRÍVEL) HISTÓRIA DE AMOR

Por Wellington Duarte
Ver e ouvir os “destemidos” e “honestos” tucanos defenderem a “aparelhada” Petrobrás, pode dar ênfase à visão de que a proposta dos senhores da elite paulista é, de fato, revigorar a empresa e lhe dar “gestão responsável”, resgatando-a da “quadrilha de petralhas”, conforme disse a ex-integrante dessa “quadrilha”, a senhora Marina Silva, que alardeou isso aos quatro ventos nas suas propagandas eleitorais e que tem sido repetido à exaustão pelos robôs tucanos nas redes sociais. À primeira vista parece que o amor dos tucanos pela Petrobrás é insofismável, tal qual o clássico amor de Romeu e Julieta, ou seja, amor incondicional por esse patrimônio criado no governo de Getúlio Vargas, em 1953.
Mas, como no Brasil, a memória tende a ser “construída” a partir do ponto de vista das elites, o “modo tucano” de lidar com os trabalhadores tem sido pouco revelado nessa guerra eleitoral, tem sido simplesmente APAGADO da memória daqueles que ainda a tem. Mas a história é terrível. Deixa rastros, documentos, impressões digitais e revela que nem sempre a máscara pode esconder o que está por trás dela.
O tal amor do PSDB pela Petrobrás foi expresso muito bem durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o mesmo sociólogo que vive amuado pelo fato de que os “desinformados nordestinos” terem possibilitado a ida de Dilma ao segundo turno. Aécio Neves, o douto guardião da moral e incorruptível por natureza, afora o aeroporto que construiu nas terras do seu parente e de ter defendido o vestal Demóstenes Torres (DEM), flagrado em atos anti-republicanos,parece ser outro apaixonado pela Petrobrás, e faz parte dessa ordem de querubins vindos do Céu para lutar contra  o Grande Satã Lula e o seu exército de “petralhas”. Mas a maldição da história quebra a mais ardente das paixões.
Corria o ano de 1995, primeiro ano do governo FHC, cujo mandato se iniciava com o respaldo da mídia, dos partidos conservadores e até de progressistas e de meio mundo, por ter “debelado” o “dragão da inflação”, numa tacada monetarista que ficou conhecido como Plano Real, perfeito em quebrar o ciclo inflacionário e mais ainda em preparar o país para o mais colossal programa de desmonte social já feito. Mas tudo eram flores, e os faunos corriam pelos campos verdejantes do Brasil afora, encantando os brasileiros e afins.
Naquele ano, em três de maio, a Federação única dos Petroleiros (FUPE), uma das mais aguerridas entidades sindicais do país, deflagra uma greve, depois que o recém-empossado FHC, quebra um acordo assinado entre a Petrobrás e os petroleiros, em 22 de novembro de 1994, no apagar das luzes do governo de Itamar Franco. O “modo tucano” de governar iniciou-se com a quebra, pura e simples, de um acordo.
Greve deflagrada, começa aí a história de um governo que, seguindo a regra dos liberais, teve como objetivo quebrar a espinha dorsal do sindicalismo brasileiro e assim evitar oposição ao Plano Real. FHC ordenou ao exército a ocupação de refinarias, prendeu centenas de petroleiros e demitiu outras centenas de dirigentes sindicais, além de conseguir, como não podia deixar de ser, o apoio do Judiciário que meteu multas milionárias nos sindicatos. FHC recebeu ajuda até de assessores de Margareth Tatcher, que tinha destruído o movimento sindical britânico, quando da greve dos mineiros.
À mando de FHC o exército ocupou as refinarias da Petrobrás em 1995
 Mas, como recordar faz bem às almas, penadas ou não, vale citar as outras “bondades” feitas por FHC durante o “tucanato”, na “adorada” Petrobrás. Vejamos tais bondades tucanas.
1 – Como ministro da Fazenda, ainda em 1994, MANIPULOU a estrutura de preços dos derivados de petróleo, de forma que nos seis meses que antecederam a entrada em vigor do Plano Real, os combustíveis tiveram aumento médio de 8% abaixo da inflação ao mês, e como o cartel internacional das distribuidoras tiveram, no mesmo período, aumentos de 32%, houve uma PERDA de pouco mais de US$ 3 bilhões (em dinheiro de hoje mais ou menos R$ 7 bilhões) sob a forma de perdas no faturamento, da qual os cartéis se aproveitaram. Quanto amor.
2 – Ao iniciar seu mandato, FHC baixou um decreto que criava o Serviço de Informação e Apoio Legislativo (SIAL), um “departamento araponga”, que buscava identificar funcionários públicos que fosse à Brasília, falar com parlamentares. Como os deputados e senadores estavam sempre chamando funcionários da Petrobrás para que estes lhes dessem apoio, os mesmo passaram a ser vigiados “com todo carinho”.
3 – Ainda em 1995 o governo assinou um contrato do Gasoduto Bolívia-Brasil, que acabou sendo o pior contrato já assinado até então, e que faz Pasadena ser piada. Um projeto economicamente inviável, que a Petrobrás assumiu tendo perdas financeiras, pois a Petrobrás era obrigada a pagar determinada por quantidade de gás, utilizando ou não, além de desviar recursos da Bacia de Campos, para investir nesse Gasoduto. Tudo com muito amor e carinho.
4 – No mesmo ano de 1995 o nobre FHC mandou para o Congresso um conjunto de mudanças constitucionais, incluindo nelas, a quebra do monopólio do petróleo. Para conseguir seus objetivos utilizou-se de pressões, compra de votos e tudo que os vestais tucanos juram não fazer. A partir daí as empresas internacionais passaram a ter acesso à exploração, produção, transporte, refino e importação de petróleo.
5 - O saco de “bondades” de FHC para com a Petrobrás era tanto, mas tanto, que resolveu , em 1997, promulgar a Lei 9.478/97 que abriu o capital da empresa para investidores estrangeiros. Isso reduziu a participação acionária do Estado. Na prática, mais pessoas - inclusive estrangeiras - passaram a dividir os lucros da empresa sem que para isso fizessem investimento direto na Petrobras. O amor dos tucanos pela Petrobrás daria um ótimo filme.
6 - Em 1998 o governo federal impediu a Petrobras de obter empréstimos no exterior de emitir debêntures para a obtenção de recursos para novos investimentos. Ao mesmo tempo, FHC criou o Repetro (regime aduaneiro especial), isenção fiscal às empresas estrangeiras que importam equipamentos de pesquisa e lavra de petróleo, sem a devida contrapartida para as empresas nacionais. Com isso, cinco mil empresas brasileiras fornecedoras de equipamentos para a Petrobras quebraram, provocando desemprego e perda de tecnologia nacional.
E para culminar esse amor (estranho amor), em dezembro de 2000, o governo FHC anunciava que iria mudar o nome da empresa para PETROBRAX, para “unificar a marca e facilitar o seu processo de internacionalização”. O custo da mudança da logomarca? Mais de R$ 50 milhões.
Apresentação da PetroBrax, em dezembro de 2000 : era preciso apagar a Petrobrás da memória do brasileiro
 A mudança de nome não deu certo e, no governo Lula, os petroleiros demitidos foram readmitidos, mas parece que a retomada dos investimentos e o novo crescimento da Petrobrás fez com que o velho amor dos tucanos pela empresa revivesse.
Acreditar no amor tucano pela Petrobrás é o mesmo que acreditar queo Íbis participará do Campeonato Brasileiro do ano que vem, a convite da sempre honesta e ilibada Confederação Brasileira de Futebol (CBF). 
Acredite se quiser.