domingo, 3 de junho de 2012

Nem governo nem oposição


Por Vicente Serejo (O Jornal de Hoje)
A falta de nitidez partidária e ideológica nas retóricas tem sido o traço marcante dos partidos no Rio Grande do Norte. As últimas cores das nossas vozes – se é que a voz tem cor – o verde e o vermelho, ficaram como marcas do ciclo protagonizado por Dinarte Mariz e Aluizio Alves.
Depois, mas ainda com a presença dos dois, veio a Paz Pública destruindo o que restava de coerência. O primeiro já lutava para eleger o próprio filho e, o segundo, para voltar ao poder, sob o pretexto de se vingar do seu adversário.
A maldição da criatura contra os seus criadores foi maior do que a história deles dois. A paz dita pública ainda duraria quase dois governos – de Tarcísio e grande parte de Lavoisier Maia – até que outra vez Aluizio estivesse nutrido. Ele e suas empresas, para um rompimento que se daria nas ruas quando o líder de sessenta viu que a ambição oligárquica de Tarcísio não tinha limite.
Impôs o filho, José Agripino, depois de fazê-lo prefeito biônico de Natal, derrotando Aluizio com 107 mil votos de vantagem absoluta.
A rigor, o Rio Grande do Norte já tinha uma ancestralidade recente de acordão quando estourou o golpe militar de 64. Dinarte era um dos líderes civis do movimento e tinha, por isso, toda coerência para assumir a Arena. Mas Aluizio, tentando se abrigar no guarda-chuva do poder inventou a Arena Verde e nela sucumbiria cassado ao lado de irmãos e amigos.
Tudo por não cumprir, naquela hora, seu destino de resistência como outras lideranças nordestinas, revelando-se o conservador que ele nunca deixou de ser. A resistência ideológica no Rio Grande do Norte foi mais intelectual do que política. E mesmo os que fundariam o MDB foram quase todos, bacharéis. Vindos da Faculdade de Direito e herdeiros de sua inegável tradição libertária.
O MDB, ironizado por Aluizio – ‘cabe num Wolksvagem’- então chefe da Arena Verde, abrigou as candidaturas precoces de Henrique, a federal, e Garibaldi, estadual – mantendo o aluizismo até que o líder maior voltasse a existir na redemocratização como ministro de Tancredo Neves.
De tudo, das arenas vermelha, verde e da paz pública, nasceu o cenário que temos até hoje, feito muito mais de escombros salvados do rescaldo das rendições e dos acordos de poder do que da resistência que não empreendemos. Os filhos assumiram o palco e mantiveram o modelo.
O PMDB dividiu-se em dois para eleger Rosalba Ciarlini para o Senado e o Governo, e quase todos foram às ruas ao lado do PT, agradando ao Palácio do Planalto, quando as urnas de Natal puniram, exemplarmente, o acordão espúrio.
Seria muito simplório imaginar que o desgaste das gestões de Micarla de Sousa e Rosalba Ciarlini nada tem a ver com o passado. Não somos partidários nem ideológicos em nada. Nem o PT que mostrou sua falta de pudor ao aceitar o apoio de todos para conquistar uma Natal que já lhe derrotou várias vezes. Perdeu para ele mesmo.
A não ser que se queira acreditar na vitória de Micarla de Sousa, no primeiro turno, como uma prova de sua liderança e do senador José Agripino. Coisa que só os tolos acreditariam.
Vicente Serejo é jornalista e cronista
* Texto originalmente publicado n’O Jornal de Hoje (Natal)