domingo, 2 de agosto de 2009

Getúlio hoje chama-se Zé Serra

O gesto político do governador paulista José Serra, vindo ao coração do Nordeste a título de homenagem ao Gonzagão, retrata algo que este país ainda não conseguiu superar: a diferença social e de visão de mundo entre os políticos paulistas e os cidadãos nordestinos.
Essa diferença, fingidamente corrigida nos momentos pré e durante as eleições gerais, consiste no seguinte: para os paulistas, os nordestinos continuam sendo o lado atrasado, folclórico, do país. Estes não passariam de indivíduos limitados a serem um potencial de votos nas urnas.
Essa postura é repetida neste momento, em pleno século XXI, pelo hoje cacique tucano e que foi, ontem, presidente da União Nacional dos Estudantes, lutando contra o subdesenvolvimento nacional. Pois bem, nos seus passos de hoje, aplaudidos pelo tucanão Fernando Henrique Cardoso, o governador José Serra reproduz, na íntegra, aqueles itinerários e discursos acontecidos ao longo da história política do país. E isso vale lembrar.
Durante e logo após a Revolução de 30, o Nordeste foi visitado constantemente pelos vencedores daquela refrega. Todos eles discursando pela unidade nacional e fortalecimento da jovem República. Só que, logo depois, impositivo, o ditador Getúlio Vargas, grande vencedor, dividiu o Brasil em duas partes: a do Sul/Sudeste destinada ao pleno desenvolvimento e industrialização. E a do Norte/Nordeste condenada a ser mera produtora agrícola. Até hoje é forte o efeito daquela decisão tomada pelos que “amavam” os nordestinos.
Apesar dessa atitude, digamos, preconceituosa face à Região, Getúlio ingressou na campanha para presidente da República, chegando ao Recife, em 1950, para abraçar o Nordeste. Naquele momento, o jovem compositor Luiz Gonzaga estava no início de sua maravilhosa saga musical. Logo depois, compôs aquela música cujos versos cobravam de Getúlio medidas para evitar que a penúria cobrisse de vergonha e viciasse os cidadãos.
Por certo, o sessentão José Serra deve lembrar daqueles velhos tempos e suas razões. Mas, nem por isso ele assume uma posição crítica para não repetir a história. Hoje, em plena campanha para se firmar como candidato oposicionista à Presidência, o ex-presidente da UNE chega a utilizar-se daquele mesmo ícone sertanejo, adulado por candidatos de tempos em tempos.
Por isso, nada de novo o governador de São Paulo traz para que os usos e costumes avancem de qualidade. No mais, quem mereces aplausos é mesmo o Rei do Baião.